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O discursos aos odiados

Olá meninas e meninos, senhoras e senhores, como vão vocês? Primeiramente o nosso comprimento “Fora Temer”. Confesso que escrevo isso bastante nervoso, pois é difícil assumir a responsabilidade de falar sobre essas pessoas tão diferentes entre si, contudo é gratificante poder dividir esse momento com vocês e isso me deixa bastante emocionada. Disse a jornalista publicitária.

Pois bem! Quando eu comecei a pensar sobre o que dizer pra vocês meus caros amigos, eu voltei no segundo semestre de 2013, quando ainda éramos ingênuos calouros, e pude perceber o quanto essa turma tão heterogênea confrontou todas as diferenças e aceitou, com respeito, as peculiaridades alheias de cada um. Olha só, convivemos durante quatro anos dividindo o mesmo ambiente, e, apesar de querer tacar uma cadeira um nos outros a cada discussão e votação em sala de aula, o nosso convívio nos mostrou o quanto ir para o inferno bonitinho pode ser legal quando fazemos isso juntos.

Infelizmente, hoje entramos em campo sem um incrível jogador. Nosso time de jornalista tem uma estrela brilhando em um universo paralelo. Contudo, o olhar doce e sensível do Mateus ainda está guardado nas nossas lembranças e tenho certeza que neste momento ele também está vibrando a nossa vitória. Sua ausência aqui foi e ainda é uma dor imensurável, mas ela nos fez perceber sentido nas pequenas coisas que cultivamos e descobrir que a empatia é uma qualidade necessária para a nossa formação, tanto como seres humanos, quanto como profissionais.

Percorremos uma longa jornada até o dia de hoje. Tropeçamos, caímos, nos machucamos, mas também fomos levantados, cuidados e protegidos. Foram intensas, alegres, às vezes confusas e exaustivas horas aulas, porém aqui estamos iniciando a colheita dos primeiros frutos que nossos mestres nos conduziram a plantar. E vocês, nossos convidados, familiares e amigos, com toda certeza tiveram grande importância para que este momento se concretiza-se. Tenham certeza, compartilhamos essa vitória com vocês!

Durante essa trajetória ouvimos que a palavra simplório pode ser uma crítica muito pesada a redação e escrita de um jornalista; Que quando escrevermos artigos científicos e afins, poderemos indicá-los nos referindo na terceira pessoa; “Aliás, Maria Dulce tem um artigo…”; Descobrimos que pochete esteve na moda, inclusive ainda recomendo o uso, e que apagar a luz pode acalmar uma turma de estudantes debatendo enfurecidamente sobre certas metodologias, de certos professores; Enfrentamos aulas aos sábados com uma direita intragável e, neste mesmo semestre, fomos agraciados com uma esquerda do amor, amém seja as aulas de política; Ah! E nunca se esqueçam, “o cliente chegou” aperte a tecla W e tá tudo lindo. Também tivemos a honra de absorver uma pluralidade cultural de um cara que além de um brilhante professor é um rapper de mão de cheia. Parafraseando um ilustre docente, espero que quando sairmos daqui, todos estejam cientes de que já não existe mais abertura para fazermos besteiras no mercado, ainda mais com a possibilidade de ganhar dez salários mínimos, imagina um emprego desses, bicho!

Meus caros e lindos jornalistas. Vocês não sabem o quão orgulhoso estou de nós. Ao nos rever aqui sei que o sonho que compartilhamos se torna realidade. Cada um com sua individualidade fizeram destes meus últimos quatros anos uma experiência inenarrável. Foram tantos risos e memes partilhados que acho que lá da Coreia sentiram o impacto. Calma Cecília! Depois você nos conta. Suportamos cada grosseria de alguns arrobas que, nossa, o nome falsiane nunca encaixou tão bem em um grupo de universitárias belas, recatadas e do lar, nós mesmos Andreias Mellos. Construímos um laço amarrado de carinho, amizade, amor e compreensão, muita compreensão! Pode entrar minhas Neys. Aprendemos até a conviver com héteros fanáticos por futebol. Socorro! Eu posso até chutar que têm formandos com camisa de time debaixo da beca.  

Hoje saímos daqui com o dever de exercer com verdade e ética a nossa profissão e assumirmos, com responsabilidade, nossa obrigação para com a sociedade. Lembrem-se, quando nos oferecem um lugar em um foguete, mesmo sem saber qual acento, que possamos decolar, usufruindo cada vez mais da essência do nosso trabalho. Que escolhemos sempre pelo amor, pelo bem e pelo respeito, sendo intolerantes com o ódio e a opressão pregados por alguns membros da nossa sociedade. Afinal, temos em mãos ferramentas de transformação social que nos torna presente para fazermos o futuro e escolher nosso destino. O jornalismo com certeza não torna ninguém rico, mas aqui, como apenas uma unidade, somos um conjunto de revolucionários que relutam contra a acomodação e caminham loucamente para o sucesso.

Eu sei que tudo isso serão apenas histórias algum dia. Mas agora, exatamente agora, esses momentos não são histórias. Está acontecendo. Nós podemos ver. E nesse momento nós somos o infinito.

Obrigado a vocês, meus colegas e minha secretária que me ajudou a escrever este discurso.

 

Amo vocês, jornalistas!

 

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Quais as dificuldades em ser cisgênero?

Cissexual ou cisgênero são termos utilizados para se referir às pessoas cujo gênero é o mesmo que o designado em seu nascimento. Isto é, configura uma concordância entre a identidade de gênero e o sexo biológico de um indivíduo e o seu comportamento ou papel considerado socialmente aceito para esse sexo.

Precisei adicionar esse termo ao dicionário no meu arquivo Word, pois ele ainda não era reconhecido, o que me espantou um pouco, confesso! Uma grande porcentagem da população é cisgênera e não possui a ciência disso. A comunidade LGBT é tão deslocada na nossa sociedade diante de tamanho conservadorismo que vira e meche ouvimos questionamentos sobre como é ser gay, lésbica, trans ou bi, como é o estilo de vida de uma pessoa que precisa enfrentar todos os dias os olhares de desaprovação de terceiros apenas por ser você mesmo, quais são as dificuldades em tentar se afirmar como ser humano e, por isso, também lutar pelos seus direitos.

Recentemente o elenco da série Sense8 (uma excelente e brilhante roteiro e fotografia) esteve aqui no Brasil e concederam entrevistas para alguns youtubers e canais de comunicação brasileiros. Em 4 minutos e 33 segundos de conversa publicada com Alfonso Herrera (nosso eterno Miguel de RBD que interpreta o homossexual Hernando), Aml Ameen (ator britânico que interpreta o queniano Capheus) e a maravilhosa Jamie Clayton (atriz que interpreta Nomi, uma hacker politicista transgênera), eis que o “Canal das Bee” faz a seguinte pergunta para os meninos que ali estavam: Como é ser um ator cisgênero?

Percebe-se que os atores não reconhecem bem o termo e após uma breve e sucinta explicação respondem que ainda estão tentando entender como são os corpos que lhes foram “designados em seu nascimento”, tendo em vista que ambos são cisgêneros e possuem a “concordância entre identidade de gênero, sexo biológico e comportamento social culturalmente imposto a este”.

Segue abaixo a entrevista, e logo depois um lista de “privilégios” dotados aos cisgêneros.

Uma lista de “privilégios” da pessoa cisgênera
São, na verdade, coisas absolutamente triviais e comuns que, entretanto, são ostensivamente dificultadas ou negadas às pessoas transgêneras em razão da sua identidade de gênero 

1. Minha identidade de gênero pode ser facilmente deduzida a partir da minha simples aparência física.

2. Nunca tive que me incomodar se eu estou “passando” satisfatoriamente para os outros como membro do meu próprio gênero.

3. Para todos os efeitos legais, sociais, políticos, econômicos e até afetivos, sei que pertenço ao gênero que todo mundo acredita que eu pertenço.

4. Nunca fui obrigado a me comportar de maneira contrária ao gênero ao qual pertenço e com o qual eu me identifico plenamente.

5. Nunca tive que mentir sobre quem eu realmente sou nem ocultar meu gênero de todo mundo, como se fosse um verdadeiro “segredo de Estado”.

6. Em criança, me permitiram e até me estimularam a brincar com crianças do meu próprio gênero. Até hoje ninguém nunca me impediu de me socializar com pessoas do meu próprio gênero.

7. Não tenho que me preocupar que minha família ou meus amigos descubram minha identidade de gênero e, em função disso, me imponham pesadas restrições sociais, emocionais e até econômicas.

8. É totalmente improvável que eu seja afastado do convívio com minha família, isolado dos meus amigos, separado dos meus filhos, dispensado do meu emprego, desalojado da minha casa, ou que receba assistência médica de qualidade inferior, sofra abuso ou violência sexual, seja ridicularizado pelos meios de comunicação ou humilhado e repudiado por organizações religiosas simplesmente por assumir meu gênero publicamente.

9. Nunca tive que me preocupar com pessoas que sempre disseram me amar se transformando em pessoas completamente iradas e violentas por causa do meu gênero.

10. Meu sono infantil jamais foi perturbado com desesperadas orações à divindade para que no outro dia eu acordasse no sexo oposto ao meu.

11. Na minha adolescência não tive que pensar que o meu corpo estava se transformando em algo que eu não definitivamente não queria.

12. Nunca me importunou a ideia de ter perdido boa parte da minha vida vivendo no gênero errado.

13. Nunca tive meu ingresso barrado em lugar nenhum por causa do meu gênero.

14. Quando eu vou à praia ou à academia posso circular livremente e até usar os chuveiros do vestiário sem que ninguém me considere um ET.

15. Se eu estiver em um local separado por sexos, sempre estarei cercado por pessoas do meu próprio gênero.

16. Nunca fui obrigado “a me segurar”, quando havia banheiros públicos disponíveis e desocupados no momento. De fato, nunca tive que me preocupar com a separação dos banheiros públicos por sexo.

17. Se eu for preso, tenho certeza de que serei encaminhado para a ala adequada ao meu gênero.

18. Como membro de uma igreja ou outra organização religiosa, não tenho que me preocupar com a repercussão do meu gênero em outros membros da congregação, como não tenho que temer as conseqüências da vida após a morte por estar ferindo alguma norma divina.

19. É improvável que alguém me pergunte sobre meus genitais ou queira saber coisas a respeito das minhas características sexuais secundárias, ou me pedir para vê-las como seu eu fosse atração de circo.

20. É improvável que eu tenha que arriscar minha saúde me auto medicando, com medo de me expor a um médico e ser desqualificado, ridicularizado ou ter meu atendimento negado em função do meu gênero.

21. Nunca precisei ocultar partes do meu corpo usando ataduras, cintas de compressão ou recolhendo-as entre as pernas.

22. É improvável que eu venha a sentir a necessidade de mudar de voz.

23. Eu não tenho que passar horas e horas da minha vida em um terapeuta que no final vai me dizer apenas o que eu sempre soube a vida inteira.

24. Se eu for fisicamente saudável jamais terei que pensar em fazer coisas como reposição hormonal, cirurgia de redesignação facial ou de reaparelhamento genital.

25. Se eventualmente eu for parar numa emergência médica, não tenho que me preocupar que o meu gênero pode me impedir de receber assistência médica adequada nem que os sintomas que eu apresentar sejam vistos como produto do meu gênero (seu nariz está escorrendo e sua garganta está irritada? Deve ser por causa dos hormônios que você toma…)

26. Se eu tiver uma doença diagnosticada por um médico, é improvável que meu plano de saúde me negue cobertura em função do meu gênero.

27. Não tive que passar anos me reprimindo ao ponto de questionar minha própria sanidade mental em virtude de me sentir completamente desconfortável no gênero que a sociedade me atribuiu ao nascer.

28. Nunca tive medo de ter um colapso nervoso em função da minha identidade de gênero e, em função dele, precisasse iniciar um longo, penoso, incerto e altamente dispendioso processo, numa tentativa desesperada de fazer o meu corpo entrar em acordo com o meu gênero.

29. Quando eu converso a respeito de assuntos de gênero, jamais sou acusado de estar querendo fazer a cabeça das outras pessoas para que elas me aceitem.

30. Ninguém acha que eu sou doente mental ou inconveniente por querer expressar meu gênero em todos os lugares que eu freqüento.

31. Jamais tive que defender minha identidade de gênero contra a opinião de ninguém.

32. Nunca fui solicitado a pensar a respeito de por quê eu tenho a identidade de gênero que eu tenho; ninguém me pergunta nem pede para eu justificar porque escolhi essa identidade de gênero.

33. Todo mundo usa o pronome adequado quando se dirige a mim. Ninguém teima em me chamar por um nome diferente daquele que corresponde ao meu gênero.

34. Nunca desejei mudar de sexo. Meu corpo sempre foi do sexo que ele é desde que eu nasci.

35. Minha feminilidade/masculinidade jamais foi posta em dúvida em função do meu corpo.

36. Nunca me senti como se fosse um impostor dentro do meu próprio corpo.

37. Minha eficiência profissional não é posta em cheque em função das escolhas que eu fiz em relação ao meu corpo.

38. Tenho total liberdade para usar as roupas do meu próprio gênero.

39. Posso encontrar facilmente um parceiro que aceite a minha identidade de gênero.

40. Posso ficar em companhia de pessoas do meu próprio gênero o tempo que eu quiser, sem nenhum problema.

41. Se eu me casar, posso conservar meus amigos do meu próprio gênero, e se eu ficar solteiro, e um amigo do meu gênero se casar, posso frequentar a casa deles sem nenhum constrangimento.

42. Meu comportamento individual não incomoda pessoas cisgêneras. Não fico embaraçado quando uma pessoa cisgênera faz algo maluco, nem questiono a sanidade mental de todas as pessoas cisgêneras que existem no mundo em função desse único caso isolado.

43. Nunca fui chamado a responder por todas as pessoas cisgêneras do mundo.

44. Eu tenho mais chances de atingir a velhice sem ter que me tirar minha própria vida.

45. No meu funeral, muito provavelmente minha família atenderá meu pedido para ser apresentado com as roupas que eu mais gostei de usar em vida.

46. No meu trabalho, pessoas transgêneras seriam as últimas a serem contratadas e as primeiras a serem demitidas. Se chegassem a ser contratadas, dificilmente seriam aceitas pelos demais funcionários, como teriam o mais baixo status no quadro de pessoal.

47. Nunca deixaram de me contratar para um determinado serviço ou posto-de-trabalho em razão da minha identidade de gênero.

48. Não me afeta em absoluto a opinião da sociedade a respeito de pessoas transgêneras.

49. Os outros não me usam como bode expiatório para suas próprias questões de gênero não-resolvidas.

50. Não tenho que pensar na minha identidade de gênero nem nos meus papéis de gênero todo santo dia. Tenho o privilégio de não saber que eu tenho privilégios.

51. De fato, tenho o privilégio de viver sem ter que tomar conhecimento de todos os privilégios que tenho como uma pessoa cisgênera.

Fonte: Letícia Lanz

étreintes,
Bruce Lourenço

a puta que luta!

Sou filha da puta
e filha de puta
puta é
a puta que te pariu
que me pariu
filha da puta
que seja então
sou puta
sou mulher

Puta por não engolir
suas regras
nem respeitar
sua régua
que mede
o que seria
o ideal de mulher
você não me suporta
por eu mesma me satisfazer
por prezar pelo meu prazer
e desfazer
diariamente o machismo
que se estabeleceu

a puta que pega na labuta
e luta
com mais de mil putas
por vidas interrompidas
outras partidas
que jamais serão esquecidas

– étreintes
Tatiane Evangelista Soares

o Bruce em negação por tópicos

 

  • eu não sou legal;
  • eu não sou gay, eu não sou hétero;
  • eu não transo na primeira noite. nem na segunda;
  • eu não sou classe média/alta;
  • eu não tenho barriga de tanquinho;
  • eu não sou Batman, não sou Bruce Jenner, ou Caitlyn Jenner, ou Hulk (infelizmente, queria muito ser todos esses)
  • eu não gosto de me vestir de mulher, dá muito trabalho e, apesar de me achar muito mais gata travestida, me acho muito mais “hot” como bruce;
  • eu não tenho um olhar “encantador”. meu olho está longe de ser claro, é um castanho escuro que no sol ele fica da mesma cor. tenho uma coisa que se assemelha ao estrabismo, mas num é;
  • eu não tenho mil curtidas por postar uma foto sorrindo, tenho no máximo umas 80 no facebook e umas 30 no instagram, rs;
  • eu não espero que as pessoas me amem pelo que elas vêem, na verdade não espero nada das pessoas;
  • eu não tenho uma pele perfeita, minha pele é real, tenho pintas (mais de 30), espinhas, cravos e estrias;
  • eu não choro, mentalizo toda minha tristeza no meu sorriso amarelado;
  • eu não sou cool por ouvir indie e venerar Lana Del Rey;
  • e  não, eu não sou depressivo por ouvir Lana, sou até extrovertido demais;
  • eu não sou uma pessoa atoa, eu tenho muita coisa pra fazer, inclusive vários nadas que não me sobra tempo pra tentar ser legal na internet;
  • eu não curto ficar calado e parado, a não ser que eu esteja com fones de ouvido;
  • eu não gosto de estudar, mas acho interessante ir a faculdade todos os dias (isso não significa ficar em sala de aula, rs)
  • eu não sou orgulhoso;
  • eu não acredito em signos e me sinto extremamente irritado quando alguém justifica as merda da vida com “ah! aconteceu porque ele é libriano”
  • eu não tenho mais nada a negar aqui, caso surja mais negações prometo ir atualizando esse post;
  • eu não sou normal.

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EU NÃO SOU SEMELHANTE A UMA ESCRIVANINHA

eu não étreintes,
Bruce Lourenço

Pray for Mariana

Por: Ana Luiza Bongiovani, Bruce Lourenço, Daniele Franco, Debora Vidal, Guilherme Cândido e Thaís Pereira (Conteúdo colaborativo para disciplina Jornalismo Investigativo)

Nos morros de paralelepípedo, por nós só visitados em época de carnaval ou há anos com a turma de colégio, não ouvimos as risadas e conversa cordial típica do centro de Mariana. A rodoviária, normalmente cheia aos finais de semana com o movimento de estudantes e turistas, estava quase deserta. A cidade histórica, nove dias após o distrito de Bento Rodrigues ter sido arrasado pelo mar de lama resultante do rompimento da barragem da Mineradora Samarco, parecia apenas um retrato pálido do que sempre fora.

Os moradores, com seus semblantes entristecidos de quem viu muitas vidas e histórias serem carregadas na onda de lama, ainda assim nos receberam de braços abertos. No centro da cidade, entre grandes grupos dispostos a contribuir com as 150 pessoas abrigadas no hotel Providência, encontramos Thiago Alves, do Movimento Atingidos por Barragens (MAB): “Nesse momento, nós estamos focando nosso trabalho no contato direto com os atingidos, na sua organização direta porque quem tem que ser protagonista do processo de luta por direitos são os atingidos, são as mulheres atingidas, a juventude.”, disse. Quando questionado sobre o funcionamento do Movimento, Thiago relata não ser sua primeira vez voluntariando em Mariana: “Nossa presença aqui nessa região já é de muitos anos, principalmente acompanhando situações dos atingidos por hidrelétricas aqui nessa região e também debatendo mineração e outras questões.”.

Enquanto acompanhávamos a reunião de voluntários, debruçada na janela, dona Terezinha dos Santos (73) observava tudo com um olhar esperançoso e atento. Moradora de Mariana há anos, a aposentada diz como foi receber a notícia da tragédia nos distritos próximos: “É muito triste ver isso né? Tá todo mundo triste da vida, a cidade perdeu a graça. Meus três filhos trabalham lá na mineradora e graças a Deus eles estão bem. Infelizmente, uns amigos nossos tiveram casas atingidas e estão aí no hotel, mas tá todo mundo com saúde.” Em apenas alguns minutos enquanto conversava com a gente, dona Terezinha caiu em lágrimas ao falar sobre a solidariedade presenciada por ela: “Tá todo mundo unido e ajudando. Todo o dia eu vejo chegando carros com doações, e é muito trem que chega. A gente vai se recuperar em breve, tem mais Deus pra dar que o diabo pra carregar”, finaliza.

Passava das três da tarde de quinta-feira (5) quando a barragem do Fundão se rompeu. A falta de sirenes e alarmes limitou o alerta a população de Bento Rodrigues a somente ligações telefônicas. Conforme o aviso se espalhava pela cidade, pessoas saíam de casa somente com a roupa do corpo, a escola era esvaziada às pressas, o desespero aumentava, ouvia-se choro em meio a toda correria. Foi quando, por volta de quatro da tarde, o “tsunami” formado por toneladas de detritos de mineração atingiu a pequena cidade, arrastando não só casas, animais, carros e pessoas, mas também histórias.

Após devastar Bento Rodrigues, a onda de detritos desceu acompanhando o trajeto dos rios Gualaxo do Norte e Carmo, atingindo os municipios de Barretos e Barra Longa. Poucos dias depois, a enxurrada de lama chegou ao Rio Doce, um dos maiores do estado, matando peixes, afetando a captação de água potável e o funcionamento de hidrelétricas. Na última segunda-feira (16), 11 dias após o desastre, a lama chegou ao Espírito Santo por volta das cinco e vinte da tarde, pelo município de Baixo Guandu. Os municípios de Colatina e Aimorés seriam os seguintes a serem atingidos. A onda destruiu em segundos o que todas estas pessoas levaram anos para construir, carregou consigo a vida de inocentes.

As consequências desta tragédia podem ser ainda maiores, já que, além de ter atingido o Rio Doce, a lama deverá afetar uma área de 9km de mar no Espírito Santo, podendo prejudicar por muitos anos a vida marinha do local. Em contrapartida, a Justiça Federal determinou, quinta-feira (19), que a Samarco impeça a chegada da lama ao oceano, sob uma ameaça de multa de dez milhões de reais por dia. No dia anterior à determinação judicial, porém, a empresa já havia começado a levantar uma barreira de 9 mil metros de extensão na costa capixaba, usando de tecnologias geralmente empregadas em casos de vazamento de óleo em alto mar – tudo em uma tentativa de amenizar os impactos na fauna e flora existentes na foz do rio Doce.

A empresa se pronunciou alegando a ausência de materiais tóxicos, porém, especialistas afirmam que os rejeitos expulsos após o rompimento da barragem podem permanecer no meio ambiente durante anos. No entanto, até o presente momento, nenhuma análise toxicológica foi realizada.

Na Lama

Funcionários da Samarco podem ser avistados por toda a cidade, envolvidos na realocação das vítimas e controlando o acesso às áreas mais atingidas. Muitos membros da imprensa alegam não terem sido autorizados a chegar aos locais por impedimentos da mineradora, e grande parte dos atingidos reclama da falta de informações concretas sobre a situação. Nossa equipe sentiu-se “vigiada” quando pessoas uniformizadas passavam dentro de carros com a logomarca da empresa e passaram próximas ao local de entrevista, e não recebemos autorização para visitar as dependências do Hotel Providência, sob o pretexto de estar ocorrendo entrega de doações. A estrada para Bento Rodrigues também está sob forte vigilância – a Policia Militar age em conjunto com a Mineradora na contenção e bloqueio nos acessos para a cidade. A omissão de noticias referentes aos desaparecidos e a busca por corpos, são outras reclamações frequentes por parte dos moradores e desabrigados.

Além da polêmica atualmente na mídia sobre as doações de campanha feitas pela Vale (que, em conjunto com a australiana BHP, forma o capital da Samarco) e o alegado descumprimento da mineradora de regras que regulam a construção e manutenção de barragens no Brasil, o crime ambiental perpetuado ainda trouxe à tona novos problemas de logística e comunicação no âmbito interno das multinacionais. Governador Valadares, cidade de quase 250 mil habitantes localizada no Vale do Rio Doce, teve o seu abastecimento usual de água potável interrompido pela contaminação do rio que dá nome à região geográfica, e a Vale, ao realizar o transporte emergencial de água através da linha férrea que corta o estado mineiro, acabou por entregar quatro vagões contaminados com querosene, tornando 250 mil litros de água antes potável, imprópria para o consumo humano.

Do caos à esperança

Apesar do clima de desolação que corre entre os moradores, há quem acredite em um novo recomeço para as cidades afetadas. Um exemplo é José Arlindo Severo, ex-morador do distrito de Paracatu que perdeu tudo durante a tragédia. Casado e pai de dez filhos, o desabrigado fala sobre a expectativa de voltar para o seu lar: “Nós queremos fazer um arraial em Paracatu mesmo, só que em outro lugar. Porque lá onde a enchente passou não tem jeito de fazer mais nada não. Acabou com tudo mesmo.” Quando questionado sobre o retorno da Samarco, José diz com grande pesar: “Trouxeram a gente pra cá e tão pagando nossas contas no hotel, mas não teve ninguém da Samarco falando comigo. O jeito é esperar o dia que vai acontecer, não é? Essa reunião eu sei que é quarta-feira. Aí eu vou ver o dia que vai ser e o que o pessoal vai resolver com isso. Eu não aguento ficar aqui na cidade não. Vou esperar porque quero um terreno para construir minha casa nova, um lote bom”, finaliza.

Entre lágrimas e lamentos, as doações não param de chegar. Com o auxilio das redes sociais, grupos de outras cidades têm se organizado para levar doações até a cidade, como relata Giovani Gomes, voluntário do grupo independente Águias de Cristo, que reveza diariamente com outras igrejas a assistência aos desabrigados. “Muitas pessoas estão doando, toda hora chegam carros de Belo Horizonte, de Ouro Preto, várias regiões de Minas, inclusive do Rio de Janeiro”, destaca Giovani. Ele também ressalta os principais itens de primeira importância para doação: “eles estão necessitados de roupa íntima, água, alimento e materiais de limpeza.” O sentimento de impunidade por parte do governo também foi lembrado: “Agora o que nós esperamos é uma resposta das companhias responsáveis e que arquem com todos os prejuízos que esta tragédia ocasionou ao nosso meio ambiente, nossa economia, cultura e turismo. Espero que vire uma grande notícia e não fique apenas na manchete”.

Seja voluntário, desabrigado ou turista, no final, todos só querem voltar a ter paz e segurança entre os morros que sempre foram cartão postal de Mariana.

étreintes!

The Perks of Being a Wallflower – Charlie’s Last Letter

I don’t know if I will have the time to write anymore letters because I might be too busy trying to participate. So if this does end up being the last letter, I just want you to know that I was in a bad place before I started high school and you helped me. Even if you didn’t know what I was talking about or know someone who’s gone through it. You made me not feel alone.

Because I know there are people who say all these things don’t happen. And there are people who forget what it’s like to be sixteen when they turn seventeen. And know these will all be stories someday and our pictures will become old photographs and we’ll all become somebody’s mom or dad. But right now these moments are not stories.

This is happening. I am here and I am looking at her and she is so beautiful. I can see it. This one moment when you know you’re not a sad story, you are alive. And you stand up and see the lights on buildings and everything that makes you wonder, when you were listening to that song on that drive with the people you love most in this world.

And in that moment, I swear, we are infinite.

Charlie Kelmeckies
The Perks of Being a Wallflower

Hi guuys!

Então, Eu ainda não sei ao certo que segmento esse meu “diário” terá! Espero apenas exercitar a minha escrita, viabilizar os meus trabalhos (uma espécie de portfólio online), postar muitas resenhas, analises e opiniões (este prevalece, always) sobre músicas, filmes, series e peças teatrais e nos mais, entreter vocês com o que há de cultura aqui na cidade pão de queijo maravilhosa, minha Belo Horizonte ❤

étreintes,
Bruce Lourenço.